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Usos e Costumes

(De minhas reminiscências de infância)




- Pega ladrão!... Pega ladrão!....

Na década de 60, todos nós interrompíamos o nosso andar ali na Rua Larga, no centro da cidade, indignados: Olhávamos no sentido donde vinha o grito, e a rua inteira corria atrás do fugitivo (aquele lá adiante, correndo na frente de todo mundo. Aquele deveria ser o ladrão). Depois de uma breve corrida, o homem suado, esbaforido, ofegante, acabava sendo preso, ou espancado ali mesmo, para aprender a não ser ladrão. (Eu sentia que havia algo no nosso senso de ensinar ladrões a não roubarem, que não me agradava, mas não percebia bem o que era). Quando a polícia aparecia (sempre aparecia depois), o delegado mandava “recolher aos costumes”. Não havia na época nenhuma representação dos Direitos Humanos, e talvez por isso, nunca mais se ouvia falar do preso. A população respirava aliviada e tranquila porque aquele ladrão estava preso, e, como ele representava a classe dos ladrões, relaxava-se. O governo cuidava da população, embora houvesse muitas restrições de caráter político contra ele.

Uns anos depois, na década de 70, os ladrões já não assaltavam sozinhos. Tinham aprendido a lição depois desses anos todos sendo apanhados pela polícia apanharem da população unida. Passaram a assaltar aos pares, trincas, e em flash, num claro jogo de pôquer entre a lei, a necessidade, a moral e  uma quantidade de sentimentos que raramente são pesquisados. Raramente se entrevista um ladrão na rua, para lhe perguntar por que rouba. Talvez daí a minha ignorância nesse aspecto, e principalmente em que Universidade os ladrões teriam estudado e que justificaria o seu notável progresso no sistema e nas estratégias de roubo (Pensei até que tivessem corrompido a polícia, porque esta cada vez apanhava menos ladrões, mas agora eu já tinha os meus motivos). O governo fazia muitas propagandas dizendo que estava cuidando da população, da saúde pública, da segurança, da educação... De tudo! O governo cuidava de tudo, porque era assim que se entendia um governo e se justificavam os impostos.

Cheguei ainda com vida até a década de 90, fugindo de ladrões, e de muitas coisas. Os ladrões tinham progredido muito. Agiam em bandos, grupos, organizações. Se os ladrões haviam mudado, as leis também, adaptando-se à modernidade. A polícia estava agora modernizada. Ladrões já não eram apanhados. Não havia prisões suficientes, os crimes eram irrelevantes, e alguns policiais mais "compreensivos" até faziam parte dos bandos, agindo como espiões dentro das próprias forças chamadas de segurança. O movimento dos ladrões estava mais forte e a Universidade deles tinha progredido muito em termos sociais: a ladroagem agora tinha-se estendido aos mais altos escalões do governo. A população, que não tinha aceso á Universidade dos ladrões, continuava reclamando de roubos e assaltos, mas evidentemente, que o governo não pode dar ouvidos a tão poucas pessoas que são roubadas: Elas não representam nem 50% dos votos que elegem os senhores que habitam o palácio donde eles se governam. Além do mais, não há lugar para todos, nem no Palácio, nem nas prisões. (Aquilo a que a população angustiada chama de roubo, é até mal visto pelos senhores que habitam o Palácio... Acham pejorativo!).  Se a população tivesse algo a dizer, deveria ir para as ruas, mas a população só foi para as ruas para dizer que queriam Collor fora do governo. Collor saiu e depois entrou. (Um dia o sindicato consegue elegê-lo outra vez, porque cresceu muito esse sindicato e a Universidade faz promoções e pressão para socializar a ladroagem. Afinal, se uns podem roubar, porque não podemos roubar todos?). E como Collor voltou, a população já não vai para as ruas. Deve ter sido um ensinamento muito valioso da universidade do Sindicato da Ladroagem: Como acabar com as manifestações de rua, retirando o moral da população, mostrando-lhe que de nada adianta reclamar... José Sarney até quis que se esquecesse esse fato da ida ás ruas com os Caras Pintadas.

Quando cheguei aos tropeços até esta década, a de 20, mas já em outro século, ninguém corre atrás de ladrões. São os ladrões que correm atrás de nós. Hoje fugimos dos impostos altos, dos juros altos, da polícia, dos políticos, das instituições. Um dia eu apanho e vou preso. O PT conseguiu alcançar o poder e se transformar no bando de ladrões mais  perigoso da historia do Brasil. 

Rui Rodrigues