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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

De ouro...D'ouro.... Douro e Fornelos!

De ouro...D'ouro.... Douro e Fornelos!




Hoje acordei com saudades

Quem já assistiu a filmes sem som, ainda que modernos, sabe o que sinto. As folhas das árvores balançam ao sabor do vento, a água das cascatas despenham-se nos rios, os automóveis passam levantando poeira, mas falta o som que dá vida ao filme. Falta-me também o som às minhas lembranças do Douro dourado, de ouro. Foi lá que nasci. Saí aos quatro anos para Lisboa e depois voltei por três vezes quando estava de férias, aos sete anos, aos 11 e aos 12. Depois somente quando já estava com 38 anos para visitar meu pai que passava mais umas férias por lá. Depois nunca mais voltei. A vida se faz onde se pode e como se pode. O quando é onde for. O onde é onde for melhor.

Para quem não conhece o Douro, ficará difícil mostrá-lo em palavras e meia dúzia de fotos, e dificilmente conseguirei fazer sentir o que se sente por lá. Mas tentarei descrevendo momentos associados a paisagens.

Primeiro é o caminhar em terras do Douro, pelos socalcos onde se cultivam as uvas, pelos caminhos abertos pelo palmilhar ao longo dos anos. Os pés se adaptam ás pedras do caminho e há que cuidar de passo que não seja firme. Todos os músculos se movem. É solo xistoso de pedras com arestas, como se tivessem sido recém lascadas. Pedras redondas só à beira dos rios. A paisagem é de castanheiros, nogueiras, pereiras, marmeleiros, cerejeiras, macieiras, pessegueiros, abronheiros, freixos, carvalhos, oliveiras e vinhas. Muitas vinhas. Vinhas que celtas já cultivaram antes de serem chamados de lusitanos, romanos, visigodos, judeus, árabes. A paisagem já assistiu a um desfile de modas, de tipos de carros de bois, já incorporou casas de todos os tipos, com todos os tipos de imagens de santos ou pequenos deuses, já acoitou muitos amores e muitos desejos satisfeitos. O Douro sempre viveu em guerras, a maior parte delas sem o apoio dos governos centrais, a começar pelo de D. Afonso Henriques, que alegava ser a área muito insegura pelos constantes ataques dos árabes. Terra de muito trabalho, desenvolvida mais pelas suas gentes do que por amparo de políticos. Talvez por isto a célebre frase que “para lá do Marão, mandam os que lá estão”.


As ruas já foram de terra, de pedras escorregadias de basalto, e a modernidade trouxe o asfalto que dá um melhor caminhar quando os cestos carregados de uvas chegam aos lagares. Evidentemente que sou pelo progresso, pela evolução, e isso está patente em meus textos. Mas a saudade, aquela que fica morna no coração, permeando nossos momentos de repouso, são aquelas do “nosso” tempo, aquele tempo em que fazíamos realmente parte da terra, como se fossemos árvores ambulantes que caminhavam com as raízes. Raízes da terra onde tivessem pingado umas gotas de azeite, outras de vinho, permeadas de migalhas de broa de milho, fumeiros, castanhas, queijo de cabra. Sem faltar é claro, os mugidos das vacas barrosã que passavam resfolegando com seu olhar meigo e conformado os chiados das rodas dos carros de bois de trabalhadas cangas. E ainda se vêem crianças subindo no estrado desses carros para apanharem uma boléia até onde desse.


Podem agora se ouvir sons no filme da saudade.  Saudade não é sinônimo de falta ou de ausência. Saudade é muito mais do que isso. Saudade é o sentimento da falta quando se pressente que difícil ou impossivelmente se voltará a ter no futuro exatamente, e tal como, o que tanto amamos no passado.

A saudade que tenho é a dos meus amigos que enriqueceram a minha curta infância por lá, como o meu padrinho Faustino, a minha prima Neli, o amigo Mário, o primo Otílio, a tia Candidinha, a prima Dina, e tantos outros e outras cujas imagens continuam em minhas recordações, mas que cujas letras dos nomes o tempo já borrou. O tempo!

É o tempo que parece trazer a saudade, mas mais uma vez nos enganamos. Não é o tempo. É a certeza de que o passado não pode ser redimido, não pode ser trazido para o presente, que o que passou já passou, e só viverá na memória dos vivos e nem de todos. Há os que não se lembram de nada. Mas não posso esquecer o lagar de azeite quando na época da prensa das azeitonas, lá no alto da rua, no Largo do Senhor, as portas se abriam e as crianças como eu já faziam fila com seus pedaços de broa para molhar no azeite quente que comiam deliciadas. Era falta de educação levar uma broa inteira e o pedaço de broa que levávamos nos parecia ridiculamente minúsculo para tanto azeite que ainda se via no lagar, no que pesasse a bondade do produtor. Olhos de criança são sempre muito grandes. Só de crianças? Cremos todos que não.
Como esquecer as corridas de carros de madeira pela estrada nova, sem capacete, sem joelheiras, sem cotoveleiras, todos se julgando um Fangio, Stirling Moss, os grandes heróis das corridas de automóveis e que pouco mais equipamentos de segurança tinham do que nós? Eles morriam. Nós só nos escalavrávamos nas pedras, nos ralávamos na terra poeirenta da estrada, e que se saiba ninguém caiu da ponte no rio.


Nas minhas o Marão está sempre com neve, todos estão vivos e caminham pelas ruas úmidas de inverno, cobertas de neve, ou abanam-se com abanicos nos verões quentes e secos, quando se abrem os alçapões na sala, cobertos com tapetes e se descem as escadas até chegar ao frio da adega, onde entre uma conversa e outra se toma um bom copo de vinho bem acompanhado de uma chouriça, umas castanhas defumadas, queijo, pão acabado de sair do forno. A saudade vem do aconchego, da amizade, dos abraços, que não se podem repetir porque a vida não é eterna, a paisagem muda, a convivência foi interrompida e o rio do tempo corre inexoravelmente na mesma direção, sempre em frente. Quem estuda Física sabe que o tempo não é uma linha contínua, mas vai sempre numa direção... Em frente.


Foi assim em 1983 quando voltei à “minha” terra, Fornelos. Fornelos já não era a minha terra. Era a terra dos que lá viviam, e por mais que me dissessem ou digam que é minha já não é. É a terra amada onde nasci. Linda, com gente que amo, e onde a amizade, por mais forte que seja, já não é a mesma daquela que provém da convivência. Amizade hoje é uma cortesia agradável. Fornelos já não me pertence. A não ser no passado, aquele que passou e jamais se poderá alterar.
Mas... Alterar para quê?  Porque vivenciar duas vezes a mesma coisa? Não teria sentido. É melhor, por melhor que tenha sido o passado, que haja a saudade, aquela que nos lembra que o passado não volta.














A Fornelos de Santa Marta de Penaguião, terra do Douro, com muita, muita saudade!


Rui Rodrigues

Fotos pela ordem: 
Fornelos
Rio douro
Rio douro
Vitral de Peso da Régua
Lagar de azeite
Amoras silvestres
Dançando enquanto se pisam as uvas para fazer vinho
Corridas de carros de madeira
Serra do Marão com neve 




quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Adoção de cachorro cãopanheiro, carente e de raça.



Adoção de cachorro cãopanheiro, carente e de raça.


Pode me adotar que não vai se arrepender!

Solto pouco pêlo, faço minhas necessidades e até tomo banho sozinho, todos os dias, sem custos adicionais em lojas de beleza canina. Basta-me água de um chuveiro e sabão ou sabonete. Claro que prefiro sabonete para ficar mais cheiroso. Não como muito, mas como de qualquer coisa, o que sobra das travessas e panelas. Do prato não. Normalmente o que sobra nos pratos é o que ninguém quer. Aliás, não exijo nada e estou sempre de bem com a vida. Sou extremamente saudável e nunca fui a médico. Só para tomar vacinas quando era um cachorrinho na casa em que nasci. Fui bem ensinado e sei fazer muitas coisas. Não sou castrado mas tenho a cabeça no lugar e não saio por aí atrás de qualquer cachorra só por que estou com vontade desenfreada.

Aprendi a miar. Se desejarem me adotar, posso latir, ladrar ou miar. Imito passarinho. Á vezes ronco, mas é raro. Aprendi a conter os meus intestinos e não solto “pum”. Sei exatamente onde se fazem as “necessidades”, que é no banheiro, e vou sempre lá quando estou apertado. Na rua não faço necessidades porque fui bem ensinado e nem precisa levar aquele saquinho de plástico e luvas de plástico para apanhar e guardar as minhas necessidades. Quando preciso vou ao banheiro. Fui bem ensinado. Posso ficar no meu canto caladinho, fazendo companhia, de frente ou de lado para a TV, gosto de escutar música, e se tiver um computador por perto, sempre fico de bituca nas postagens das redes sociais. Gosto de tudo o que se move. Faço a maior companhia. Escreva num bilhete o que quer, dê-me uma bolsa e dinheiro e me mande no supermercado que trago tudo direitinho e o troco também. Não é qualquer cachorro que faz isso. E aprendi a não roer móveis.    

Nada de bebida. Basta um carinho, um cafuné, uns beijinhos e fico numa boa, feliz da vida. Se for dar uma caminhada, me leve. Sou um bom “cãompanheiro”. Tenho uma vantagem quando for num restaurante: Nenhum garçom sente vontade de me botar para fora, nenhum dono proíbe que eu entre, porque sou simpático, tenho olhar meigo, comporto-me muito bem e não incomodo ninguém, mas se precisar espantar ladrão sou dos melhores. Ninguém encostará a mão em você. Nem ladrão se atreve quando estou por perto. Agora imagine a seguinte situação: Você está carente e gostaria de um afago. Também aprendi isso. Afago como ninguém afaga. Faço todos os tipos de carinho e se não gostar, não lambuzo. Mas se gostar, lambuzo pra valer. Minhas lambuzadas, o seu prazer, o seu conforto. Se pedir mais, sempre tem. É o mínimo que posso fazer por quem me dá carinho. Carinho com carinho se retribui. Também aprendi isso.

Também sei dirigir, mas preciso renovar a minha carteira de motorista. Sou um aposentado de baixo salário e alta instrução. E só aceito uma dona. Dono não! De dono estou fora... Mas se prefere um cachorro de verdade, posso compreender perfeitamente.



Anúncio lançado na Internet por um morador de rua que teve acesso a uma LAN.  
Rui Rodrigues

domingo, 27 de janeiro de 2013

O caso do crime da Bedale Street.


Anne G. Slomp assassinada entre a Bedale Street e a Winchester Walk


Carl Logger aluguou por cerca de quinze dias um quarto num Apart Hotel na Winchester Walk, perto da Ponte de Londres quando foi a trabalho para uma empresa norte-americana. Como o trabalho era de consultoria, limitava-se a estar disponível para acompanhar os resultados, analisar e aconselhar medidas decorrentes. Na verdade sobrava-lhe muito tempo que sempre aproveitava para caminhar pelo centro financeiro de Londres. Era final de Inverno e em plena ponte havia um protesto de artistas de rua, aqueles que desenham rostos, fazem caricaturas: Queriam a reabertura da Leicester Square para as suas atividades que não poderiam, por lógica, ficar longe da National Portrait Gallery. A praça fora re-inaugurada e estava agora coberta de milhares de lajes de granito importadas da China. Acusavam o Conselho de Westminster. Ficaram lá com cartazes por alguns dias, constatando que todos os governos são teimosos. Alguns artistas portavam desenhos de pessoas - normalmente rostos - como propaganda e prova de que eram trabalhadores úteis ao Conselho. Temos o costume em todo mundo de reclamar quando nos mudam os nossos referenciais. Carl deteve o olhar em alguns desenhos e num em particular que mostrava um casal. Ela estava sorridente, mas o sujeito parecia destoar da alegria da moça, traços que o artista captou. Era sutil mas destoava.   
Como observador da cidade Carl não conseguia evitar ver os transeuntes com aquela curiosidade que todos temos: O que há de diferente nos habitantes de outros países que os tornam “diferentes”. A resposta era invariavelmente a mesma. Nada! Absolutamente nada! Nossas coisas comuns, a quaisquer seres humanos, são tantas, que o mais lógico é dizer que todos somos iguais.  Gostamos do que é bom e nos é agradável ou faz bem, suportamos o que nos incomoda e detestamos o completamente oposto. Londrinos eram cariocas, nova-iorquinos ou lisboetas apenas com línguas ligeiramente diferentes, e enquanto uns tomam café outros tomavam chá, e em vez de vinho outros tomavam mais cerveja, mas todos têm excelentes times de futebol. São unidos pelo que têm em comum e não pelas diferenças. A paisagem é que é bem diferente na arquitetura, na cor e nos sons, além do trânsito que corre sempre na contramão, em Londres, com os mesmos problemas dos trânsitos que rodam na mão convencional. De resto são casas, água, ruas, policiais, serviços públicos... A lei e a ordem contra a desordem.

Ao anoitecer de 23 de dezembro de 2011 Carl estava voltando para o Apart Hotel quando foi surpreendido por uma cena insólita. Havia policiais na esquina da Winchester com a Bedale Street. A polícia tinha montado uma barreira e interrogava quem passava por ali. Alguns guardas iam de porta em porta recolhendo informação sobre a vizinhança. Havia um corpo coberto no chão. A cena do crime estava isolada. Aguardavam os serviços da Morgue. Um policial  abordou Carl com olhar completamente sem expressão ao entrar no Apart Hotel e o interrogou rapidamente. Ficaram sabendo que morava ali mesmo, a empresa para quem trabalhava e lhes disse que ficaria por lá até 10 de janeiro. O guarda Spencer perguntou-lhe se tinha visto algo sobre o assassinato de uma moça. Disse-lhe que não, mas que estava disposto a cooperar. Liberado, entrou, subiu para o quarto e tomou um whisky de sua própria garrafa enquanto assistia a um programa de TV. Não deixou de pensar que, da forma como gostava de Londres, mais do que a decantada Paris, seria oportuno que se envolvesse o suficiente nas investigações sobre o crime só para passar mais uns dias por lá. Sorriu. Isso que lhe passara pela cabeça era um absurdo. Seria uma catástrofe para sua carreira, mesmo como simples suspeito ou testemunha, porque nós, humanos, somos muito simplistas na hora de julgar os outros e muito complicados na hora de entendê-los.

Afastou o pensamento e desceu cinco minutos depois até um PUB famoso, ali mesmo na Bedale Street, o Globe Tavern, ao encontro de alguns colegas de trabalho. É impossível consumir bebidas em público fora do horário permitido por lei: Antes das 19:00. Contou-lhes o caso. A moça que lavava os copos com uma mágica de rapidez impressionante, contou que se tratava de uma garçonete do Globe Tavern contratada na noite anterior. Tinha sido o seu primeiro e ultimo dia de trabalho na casa. Chamava-se Anne G. Slomp.  A simpática garçonete contou ainda que Anne Slomp chegara para pedir emprego umas semanas atrás, sozinha, e no seu primeiro dia de trabalho viera também só.  Passou rapidamente pela cabeça de Carl um pensamento que guardou na memória: Como cada vez mais se vive só, o Estado deveria ser a nossa segunda família, ou seja, deveríamos trabalhar e pagar ao Estado uma apreciável quantia para que este nos cuidasse nas idades mais avançadas, mas os fundos deveriam ser atrelados aos Bonds do tesouro nacional, e permanecer intocáveis, para que não pudessem ser repassados por qualquer motivo e virem dizer no futuro que os fundos haviam apresentado prejuízos.
Ainda pensava nisto quando no dia seguinte no escritório comentaraam o caso do crime da Bedale Street como estava sendo chamado o caso. Nos jornais havia uma foto da moça e não pôde deixar de se lembrar dos artistas da ponte de Londres. Ele ja vira aquele rosto. Como aguardava um relatório que só chegaria no dia seguinte, foi até a ponte. Os artistas ainda estavam lá. Como não encontrou a foto que procurava perguntou se podia entrar em contato com um artista que estava ali com eles no dia anterior, e descreveu-lhes o desenho do casal. Deram-lhe um nome e um endereço. Pegou um táxi e foi até lá. O artista morava num beco ladeado por casas vitorianas construídas para trabalhadores há mais de duzentos anos. Quando ia bater à porta, esta se abriu e um homem saiu apressado sem o olhar diretamente. Vestia-se esportivamente, com um agasalho de moletom, mas algo nele não estava de acordo. Algo chamara a atenção de Carl e não sabia exatamente o que era. Pensaria nisso mais tarde. Subiu umas escadas  íngremes e deparou-se com duas portas, uma de cada lado das escadas. Uma delas estava aberta. Era exatamente a que correspondia ao apartamento do artista. Carl teve um mau pressentimento... Empurrou um pouco a porta e deu uma espiada lá dentro. Havia um corpo no chão e não lhe foi difícil adivinhar quem era. Aparentemente o apartamento em desordem como costuma ser de qualquer artista que faz do apartamento um estúdio, não tinha sido revirado. Saiu rapidamente. Quando estava saindo do portão vitoriano do prédio, encontrou um conhecido,
Spencer, o guarda que o interrogara na noite anterior estava na frente dele. Perguntou-lhe o que fazia ali, quem e o que procurava. Carl contou-lhe rapidamente sobre os artistas da ponte, o desenho do casal, e do homem que vira sair do prédio quando ele estava entrando ainda agora, há pouco. Finalmente contou-lhe do cadáver no quarto do andar superior. Spencer chamou os serviços da polícia pelo radio e pediu-lhe que subisse com ele, disse para não tocar em nada e para não entrar no apartamento. Depois desceram e entraram no carro de Spencer e foram para a delegacia. O desenho não tinha sido encontrado.           

  - Vamos la, senhor Carl... Tente lembrar-se do sujeito do desenho e descreva-o para o nosso assistente aqui. Por computador tentaremos  fazer um desenho do acompanhante de miss Anne Slomp e compará-lo com os de nossos arquivos.  Esse sujeito pode ser a chave do crime.
 Carl passou a tarde na delegacia. Ao final tinha um rosto na tela muito parecido com o do desenho do artista que vira na ponte. Pelo menos assim julgava. Spencer aproximou-se, olhou o desenho e disse: 
- Acho altamente improvável que seu desenho esteja correto... Esse aí é  Alfred O. Gibson, famoso apresentador de programas de televisão, colunista de vários jornais. O que ele faria com uma moça desempregada, pousando para desenhos na ponte?


Quando saiu, Carl carregava consigo um convite da Scotland Yard para permanecer a seu serviço até que fosse encontrado o homem parecido com o apresentador de televisão e que só Carl tinha visto de forma mais próxima do real no desenho do artista. O envolvimento de Carl com a polícia londrina permaneceu em sigilo

Em qualquer caso de crime, e logo a seguir à fatalidade, os acontecimentos costumam precipitar-se  numa velocidade crescente até que o criminoso seja descoberto e isto se deve à pressa de cobrir rastros, apagar testemunhas, limpar o caminho por parte dos criminosos que lutam contra o tempo. No fundo eles têm consciência de que lutam contra o tempo. Então se precipitam. Aconteceu o mesmo no caso do assassinato de Anne G. Slomp. Nessa mesma noite Carl voltou com os amigos ao Globe Tavern. A moça que lavava os copos tinha instrução, era loura e muito bonita. Ficou lá até as 23:00 tomando a melhor cerveja inglesa, cor de urina escura, típica de quem não bebe água, só cerveja para não enferrujar, umas boas e excelenteFuller’s London Pride . Depois saiu a pé até seu apartamento na Winchester Street, logo a seguir ao cruzamento com a Bedale, onde o cadáver de Anne tinha sido encontrado.  O táxi apareceu de repente, vindo bem devagar. Quando Carl viu surgir um revólver pela janela do motorista, sua adrenalina subiu e preparou-se para o pior. A bala passou a milímetros de seu pescoço e instantaneamente   levou a mão ao pescoço e se jogou rolando no chão, ficando inerte. O taxi continuou seu caminho acelerando. Provavelmente acreditaram que tinham acertado sua vítima. Quando desapareceu da vista, Carl levantou-se e voltou ao Globe Tavern. Ligou para Spencer e contou o ocorrido. O taxi tinha uma placa falsa com letras e números. Os taxis de Londres apenas têm letras. 

Nessa noite Carl dormiu acompanhado com a bela inglesinha. Arrumada para sair, ela era uma raínha. Uma raínha que parecia movida a pilhas. 

(Continua)   


sábado, 26 de janeiro de 2013

Os mistérios de Cambises



Unidos no grande mistério
(Baseado numa história real)



(Somos animais da Natureza sujeitos a intempéries de todos os tipos. Somos uma espécie teimosa, insistente, sempre buscando formas de conseguirmos o que desejamos, e quando a Natureza se acalma, passamos o tempo criando intempéries entre nós mesmos como se fosse diversão ou treino para novas intempéries futuras. O problema maior que temos quanto às intempéries, é quando a natureza nos brinda com uma daquelas de bradar aos céus – sempre em vão – em meio a uma intempérie que nós mesmos já havíamos criado e da qual ainda não saíramos. Uma situação destas num deserto geralmente é fatal. Pior ainda quando a temperatura média global estava em ascensão e provocava conturbações na atmosfera do deserto com ventos quentes, secos e fortes. As dunas se transformavam, mudavam de lugar em questão de breves minutos).



A infalibilidade e descendência divina dos reis.


Podemos ser brilhantes num determinado momento ou durante uma vida inteira, mas como não conhecemos tudo neste mundo, o menor erro, desconhecimento ou equívoco pode ser-nos fatal. O conhecimento é algo que se vai desvendando na medida em que a inteligência evolui e novas descobertas dão origem a outras. O conhecimento é coisa da humanidade, de um grupo ou sociedade e não de um só indivíduo. Assim, naqueles anos da década de 20 do século sexto antes do nascimento de Jesus Cristo, mais exatamente no ano de 525 AC, reinava Cambises II, filho de Ciro II o Grande. Ambos julgavam que os deuses os protegiam e que eram seus representantes na Terra. É incrível como passados tantos anos e com tanto progresso, tanta evolução, ainda há quem se julgue ser representante dos deuses neste planeta. E os deuses mudaram. Uns se foram, outros surgiram, outros estão desaparecendo. Muitos reis ganharam batalhas e perderam outras, fosse qual fosse o deus que imaginavam representar. Porém havia uma grande diferença entre Ciro e o filho Cambises. Ciro era magnânimo, até com seus inimigos, e ficaria na história como “o Grande”. Cambises foi sempre um mau caráter, um indivíduo torpe e as lembranças que deixou foram horríveis. Mas nada importava para as sociedades do largo reino: Fossem os reis bons ou maus todos seguiam as ordens do rei por solidariedade inocência ou medo.

(O exército de cinqüenta mil homens de Cambises saiu de Menfis no Egito recentemente conquistado na direção da atual cidade de Tunis, na época pertencente a Cartago, defendida pelo poderoso exercito cartaginês. Caminhavam à noite guiados pelas estrelas a passo reforçado, e descansavam de dia porque, pelo tamanho do exército, o abastecimento de água deveria ser feito apenas nos oásis, e estes eram muito esparsos no deserto da Líbia, onde de vez em quando as areias descobriam ossadas de homens e animais que os ventos e as areias haviam coberto um dia, normalmente de forma trágica. Entre os homens o moral não era alto. Estavam suados, cheiravam mal, cansados, sedentos e esfomeados e se fossem surpreendidos estariam em desvantagem. Não havia nuvens no céu completamente azul e nem se viam aves de rapina, tal a secura daquela parte do deserto. Se houvesse, estariam agora sobrevoando os cadáveres dos que haviam ficado para trás vencidos pelo cansaço, ou por um simples resfriado que naquelas condições era sempre fatal. O que lhes dava ânimo era a possibilidade das pilhagens num Egito que se ornamentava com ouro, lápis-lazúli, pedras preciosas, belos panos de linho imaculadamente brancas. A maioria pensava nas lindas mulheres egípcias, de olhos pintados, sempre lavadas e perfumadas. Tomariam as jovens egípcias depois de cheirarem o cânhamo defumado – o Quinabu – e se tivessem sorte, com o uso de bastante mandrágora ou papoula preparada que eram bem mais relaxantes.Com mais sorte ainda ficariam no Egito para sempre como exército de ocupação).


O perfil de um rei



Tal como Cleópatra, Cambises II - Kambujiya ou کمبوجیه - achava-se o representante dos deuses, filho de deuses, e não teria filhos com “humanos”. Podemos até apostar sem errar muito que Cambises não considerava o povo como algo “humano”. Para ele eram servos, destinados a servirem as suas vontades. Todo um reino para servir sua realeza “divina”. Por isso casou-se com suas duas irmãs: Atossa e Roxana, para que pudesse ter “filhos divinos”, mas morreu sem ter tido filhos com as irmãs. Num acesso de fúria, espancou violentamente Roxana, sua irmã grávida, dando-lhe pontapés no ventre prenhe até a morte.  Anteriormente havia matado seu irmão Esmérdis (ou Bardia) por ser o preferido do povo e concorrente ao trono por morte de Ciro. No Egito matou com as próprias mãos um sacerdote que representava uma das mais importantes divindades egípcias, o Boi Ápis. Acusado de corrupção, um juiz teve sua pele arrancada e esticada sobre a sua própria cátedra de juiz. A tropa não gostava de Cambises II, muito diferente do pai, e um de seus generais, Dario, era seu braço direito na campanha africana. Dario era um general esperto e dizia-se descendente, também, dos Aquemênidas, uma estirpe real à qual Ciro e Cambises também pertenciam. O império persa era o maior que já se vira sobre a face da Terra. Somente no império habitavam aproximadamente cinqüenta milhões de habitantes de todas as regiões do planeta, cinqüenta por cento de toda a humanidade. Dizem que ele mesmo matou Psamético III Faraó do Egito logo após o ter derrotado na batalha de Pelúsia. Mandou matar Creso, um rei deposto que agora fazia parte de seu conselho e os pretensos assassinos para demonstrar que não fora ele o mandante. A cada dia Cambises se mostrava de temperamento mais instável, incitado pelo frenesi do poder, de conquistar toda a terra que pudesse enxergar. Seria um deus visível, palpável, senhor único de toda e qualquer vontade. Dario passou a temê-lo. Da forma como se comportava, um dia Cambises mandaria matá-lo também. Talvez quando chegassem a Pasárgada, depois da revolução domada.

(Algures no deserto da Líbia, entre o Egito e Cartago, a temperatura baixou um pouco e ainda era quase meio dia. Muito cedo para baixar. A essa hora uma boa parte do exército de Cambises II Descansava do calor depois de uma longa caminhada noturna até cerca das 10 horas da manhã. Longe de qualquer possibilidade de serem atacados, os cinqüenta mil homens dormiam debaixo dos escudos e das mantas que carregavam. Não havia turnos de vigia. Iam conquistar Cartago. Aquele exército era enorme. Outra grande parte estava com Cambises a caminho da Etiópia, em sentido oposto. Cambises queria conquistar toda a África, mas caminhava para a Etiópia porque havia notícias de um mago usurpador do trono aquemênida. Uns diziam que era o irmão de Cambises, Bardia, que seria o próprio mago ou ele mesmo ressuscitado quem pretendia destronar o rei. Dario se encarregava de dar ouvidos aos boatos. Não tinha incitado o rei a dividir o exército, mandando as divisões com mercenários para o deserto da Líbia?).

A caminho da Etiópia.


Cambises tinha Dario como seu braço direito, inseparável. Era seu conselheiro político e militar. Um dia dar-lhe-ia um fim, porque não se pode deixar um colaborador ser mais eficiente do que o próprio rei sob pena de perder o reinado. Dario também sabia disso, e de fato, não desprezava a idéia de um dia vir a ocupar o trono, visto que Cambises era detestado por todos. Podia matar Cambises e pôr a culpa em alguém estranho. Gente disposta a isso não faltava. Aliás, se viesse a ser um rei não precisaria de um império tão grande, mantendo exércitos de ocupação que sempre custam muito caro e não raro são focos de revoltas. Como Cambises queria conquistar Cartago, não se opôs, e consultado, aconselhou a que fosse destacado o exército que misturava persas com gentios. Eram os mais fracos em fidelidade. Em vão tentara demover Cambises de atacar a Etiópia, mas não conseguiram passar além da Núbia. Os núbios derrotaram o seu exército que mal conseguiu voltar ao Egito. A frota foi desmantelada. O humor de Cambises piorava e era costume entrar em depressão. A obra a que Cambises se propunha era muito maior do que a sua capacidade de executá-la. Dario acompanhava com prudência. Havia notícias de uma revolta na Pérsia. Muito em breve deveriam ter de voltar para contê-la e Cambises não poderia chegar até lá.

(Primeiro foram os animais, alguns poucos cavalos e camelos que começaram a se agitar, ficaram indóceis e faziam esforços para se livrarem das amarras. Depois foi a temperatura que caiu abruptamente quando quase todos os cinqüenta mil soldados dormiam. Finalmente, os que não dormiam olharam para o horizonte e viram o que jamais tinham visto: Uma enorme nuvem vermelha, muito mais alta que as pirâmides, que se aproximava rente ao chão, mais rápido que o mais veloz dos cavalos dos sátrapas. O alarme foi dado. Cinqüenta mil homens olhavam paralisados para a nuvem. Primeiro acharam que era um enorme exército que os atacava e chegaram a fazer formação de combate, a infantaria de frente, os arqueiros atrás, a cavalaria nas laterais. Nos cinco minutos seguintes retiravam os lenços, as capas e os saiotes para se cobrirem, taparem o rosto. Era areia. Enormes nuvens de areia, coladas umas ás outras que pareciam ficar cada vez maiores, como se toda a terra os quisesse engolir. Os últimos a morrerem sufocados, sem poder respirar pelo peso da areia que se abateu sobre eles, fragilizados pela tosse constante e o sufoco, porque o que mais respiravam era areia, ainda tiveram tempo de pensar em três coisas: Na vida desde a infância, na pilhagem que iriam perder, e na impossibilidade de desobedecer as ordens de seus generais que os mandaram para a morte. Quando a tempestade de areia passou não havia rastro de nada. Era como se a paisagem sempre tivesse sido assim).


Vou embora para Pasárgada. Lá sou o rei.

Cambises descarregava a raiva por conta de seus fracassos, de sua ansiedade em resolver os problemas, por sua incapacidade de sendo rei e descendente dos deuses, não resolver problemas que lhe pareciam tão simples. A campanha no Egito, para todo o mundo tinha sido um sucesso. Afinal, ele agora era também o Faraó do Egito, mas só ele e Dario sabiam do real fracasso. Não conquistaram Cartago, foram derrotados pelos núbios que consideravam mais fracos do que os etíopes, e perderam um exército inteiro sem saber como nem onde nem porquê. A única coisa que sabiam é que o exército saíra de Menfis a caminho de Cartago, mas nem chegara lá nem voltara. Um exército, ainda mais daquele tamanho não desaparece assim. Alguém poderia ter escapado. Mas não. Não sobrara ninguém para contar a história. Cambises entrou em profunda depressão. Com a notícia da rebelião na Pérsia, resolveu voltar à pátria. Decidiu que iria por Gaza e Damasco. Talvez em Damasco ou na cidade de Hamada, no ano de 521 AC, Cambises deixou de ser rei, largou todos os seus problemas e morreu ferido. Dario disse à sua tropa, que murmurava contra Cambises no acampamento, que este se ferira a si mesmo. Sua frase que ficou na memória da história foi: “Ele morreu sua própria morte”, insinuando um suicídio, completamente impróprio para um rei, e que deveria ser interpretado como “feriu-se e morreu” como ato involuntário. Para Heródoto, famoso historiador grego, Cambises se ferira montado em seu cavalo.


(O dia fora insuportável. Dario tinha a paciência de um rei que espera sempre o momento certo para agir, suportando as adversidades com muita calma. Cambises entrara numa daquelas fases de ficar irritado, culpando tudo e todos, a boca espumava de raiva. Apesar disso jamais alguém os ouvira discutir fosse o que fosse. Cambises e Dario pareciam ser um só e sua amizade e respeito um pelo outro jamais foram discutidas ou postas em dúvida. O dia seguinte seria ainda pior, porque a instabilidade do rei o levaria a tomar atitudes hostis, de raiva incontrolável. Um copo caído, uma saudação mal feita poderia despertar-lhe os piores humores. Pela noite Dario foi a seus aposentos. Na entrada perguntou baixinho como estava o rei. Os sentinelas disseram que ele tinha acalmado. Os sentinelas sempre haviam sido de Dario, o general, e não do rei. Quando entrou, Dario viu Cambises profundamente deprimido e só. Não havia mais ninguém por perto exceto os sentinelas. O rei baixou a cabeça, desanimado ao falar sobre as campanhas do Egito, da Núbia, da Etiópia e agora da revolução na Pérsia, ao que tudo indica levada a cabo por seu irmão Bardia que ressuscitara. As mesmas forças que tinham destruído um exército de cinqüenta mil homens poderiam ressuscitar seu irmão. Já nem sabia se tinha matado devidamente o seu irmão. Estava muito confuso. Quando a sua própria adaga lhe entrou no coração toda sua energia se concentrou em arregalar os olhos de admiração, olhando para Dario sério, que o segurava nos braços, como que lhe pedindo perdão, mas não teve forças para falar. Em segundos o corpo de Cambises desfalecia por completo. Então Dario gritou para os sentinelas: Acudam! Chamem um Médico rápido. O rei feriu-se. Dario casou-se com Atossa, irmã de Cambises, esposa de Cambises e filha de Ciro o Grande).




Rui Rodrigues

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

PRESENTE SOLIDÃO- Marlene Caminhoto Nassa



PRESENTE SOLIDÃO
Marlene Caminhoto Nassa


A mesma intensidade


que me pregou


na cruz


do teu abraço


e me atou


nesse laço


dessa cruz


e que me encantou


com tua luz


fez me crucificar


na dor silente


e na solidão


sem luz


agora presente


desse teu ausentar...

Tempo de Aprender - Marlene Caminhoto Nassa



Descobrimos que se levam anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante e das quais se arrependerá pelo resto da vida. E que haverá sempre alguém a fazer lhe uma CALÚNIA e que será difícil você tentar mostrar que aquilo era mentira... Sua imagem fica arranhada injustamente sem que você possa fazer quase nada... Aprende que o mentiroso é que leva a vantagem e você tem sua reputação e imagem destruídas... Muito triste isso, mas real...
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem DOIS lados e que precisam SER CONHECIDOS...
Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes, nem são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça e a confiança de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo sem proteção. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem da vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa - por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a ultima vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto e nem sempre conseguimos... 

Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências, com ou sem medo.

Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança ou a ninguém que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser CRUEL. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo e procurar entender por que o OUTRO o magoou, pois ele devia estar sofrendo mais que você, seja por inveja, ciúmes ou sensação de inferioridade.

Aprende que com a mesma severidade com que julga você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não estanca para que você o conserte. Continuará em pedaços...

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto cuide bem do agora.
E você aprende que realmente pode suportar qualquer dor, que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais... E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida. E você finalmente aprende que nossas dúvidas são traidoras e nos faz perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar...
Aprende que ainda existe amor, pessoas bem intencionadas, que a VERDADE aparecerá a qualquer momento, que você consegue perdoar quem lhe fez mal, que o mundo pode ser melhor, que as pessoas se arrependam do mal que causaram a outra...

Agradeço e desejo a TODOS um ano novo de amor e de paz, , neste texto em que misturei meus pensamentos com algumas coisas pinçadas da internet...


Beijos, Marlene Caminhoto Nassa

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Corrida de camelos no Pólo Norte



Corrida de camelos no Pólo Norte

- Comandante... Venho comunicar que não há água neste front para fazer café!
Impávido, o comandante retorquio sem deixar de ler o seu boletim diário:
- Façam chá!

Esta era a situação do pelotão 356 da quarta companhia do terceiro exército que lutava no Saara contra as forças do Eixo. Quando mais tarde, já no Pólo Norte o mesmo soldado foi comunicar ao mesmo comandante que não havia papel higiênico, ele respondeu impávido sem deixar de ler o seu boletim diário:

- E não olhe para o meu boletim... Seus dedos podem ser usados de forma mais eficiente!

Era esta a situação geral: Nunca havia nada do que deveria haver. Consumiam demasiado e o papel nunca era suficiente. Estavam perto do Pólo Norte para uma missão de resgate a ser levada a cabo na Noruega dominada pelos alemães. Iam pelo Pólo por ser a rota mais improvável para a inteligência alemã. Aníbal já fizera algo parecido com Roma, desembarcando suas tropas na Península Ibérica e caminhando pelos Alpes com pesados elefantes até Roma. Agora o seu comando levava camelos trazidos do Saara. Se vistos por algum comando avançado alemão, diriam que era miragem e ninguém absolutamente normal acreditaria que alguém tivesse visto camelos caminhando na neve. Camelos como sabemos têm as patas enormes e bom pêlo que serve de abrigo para o frio e podem passar dias e dias sem comer e sem beber água. Para se adaptarem melhor ao frio, os camelos participaram de um seminário numa câmara frigorífica para peixe no Cairo, antes da partida. O comandante não era burro de todo. Mas ninguém sabia para que serviria o urubu que o comandante treinava todo o dia.


A viagem até à fronteira decorreu tão tranqüila que os soldados, uma meia dúzia de vinte e um tiveram tempo para aprender alemão - montados nas corcovas dos camelos - mas era tudo tão monótono que tiveram de fazer o resto do percurso a pé, porque os soldados embalados pelo sacolejante caminhar dos animais patudos, adormeciam e tombavam no gelo ártico.  Três tinham quebrado o braço, dois a cabeça, e um deles não conseguia se lembrar do que estava fazendo ali, nem do nome dos pais. A operação parecia apontar para o desastre. O comandante caminhava meditabundo...

- E então, comandante? Quem vamos resgatar, onde e como será? Perguntou um soldado barbudo, com olhar debochado assim como querendo puxar conversa.
- Vem cá!... Você é da nossa companhia ou um espião?
-Ora comandante? Que é isso? Não está me reconhecendo? Sou o Broncas! Aquele que reclama de tudo...
-Ah! Sim... Mas com essa barba nem reconheci você. Não! Por questões de segurança, só seremos informados dos detalhes quando estivermos no Ponto Certo. Quando chegarmos lá, aviso! Deeeeessssbandaaaar!


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No norte da Noruega, na fronteira entre o gelo e o gelo, havia um posto avançado alemão, com telhados brancos, soldados vestidos de branco, tudo branco. Tão branco que uma coluna avançada inimiga meio que distraída poderia passar por cima sem se dar conta. Fritz Merkel, que nesse dia estava de vigia numa torre junto ao arame farpado também pintado de branco, gritou sem largar os binóculos e sem olhar para trás na direção do posto avançado:

- Atenção comando: Tropa montada em camelos com um urubu se aproximando!

Os binóculos foram-lhe arrancados tempestivamente pelo tenente alemão que surgiu inesperadamente por detrás de Fritz Merkel. Olhou... Franziu o sobrolho e viu realmente uma tropa de camelos, mas raciocinou imediatamente que não podia haver camelos nos pólos. Era apenas uma miragem!... Sorriu desdenhosamente e desceu as escadas da torre de vigia. Fritz Merkel ouviu as risadas lá atrás. Certamente estariam rindo dele. Não era só dessa vez que riam dele. Parecia-lhe sempre que que toda a Europa e continentes adjacentes riam dele.


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De repente o comandante da tropa gritou: Parem! E olhou atentamente para o urubu. A ave estava inquieta, queria alçar vôo. Então o comandante quebrou o silêncio do rádio e transmitiu repetidamente a única frase que sabia em alemão e que tinha decorado extensivamente:

- Heil Hitler, heil Hitler!... Heil Hitler, heil Hitler!

Em menos de vinte segundos escutou também em alemão:

- Heil, heil, heil!

Era o sinal. Do lado de lá tinham entendido direitinho. Então soltou o urubu que voou numa direção bem em frente a eles e contou os minutos. A tropa tirou lençóis imaculadamente brancos das mochilas, e cobriram-se a si mesmos e aos camelos que agora descansavam deitados sobre o gelo. Haviam desaparecido na paisagem. O soldado agora sabia que tinham chegado ao Ponto Certo e em breve saberia o que iriam resgatar. Só ainda não entendia a função do urubu que o comandante agora mesmo havia soltado. Durante toda a viagem lhe tinham dado ração de salsichas velhas, mas há dois dias que não lhe tinham dado nenhuma. O urubu estava magro.

O comandante disse: - Preparem-se! Em dez minutos atacamos!  O primeiro a chegar onde eu disser, ganha umas férias no Rio de Janeiro, tudo pago! Prêmios para os primeiros cinco a chegarem lá.



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No posto alemão, toda a tropa fazia fila para subir na torre, pegar os binóculos de Fritz Merkel e olhar para o deserto de neve. Todos riam e gargalhavam, esquecidos do almoço que ficara sobre as mesas do refeitório. Era um momento de relaxamento. Não era todo dia que tinham oportunidade para rir. O que viam era aquela paisagem estéril branca, tão branca, que até a noção de distância se perdia. Quando o ultimo acabou de olhar e desceu as escadas rindo, Fritz Merkel voltou a pegar nos seus binóculos, deu-lhes uma limpada com o cotovelo para não pegar conjuntivite e voltou a olhar em frente. Desta vez voltou a ver os camelos. Ia gritar quando ouviu uma algazarra lá em baixo, perto da messe. Voltou-se e viu os soldados espantando um urubu de cima da mesa onde tinham deixado a comida para ver a cáfila em pleno deserto de neve e gelo. Gritou lá de cima rindo a bandeiras despregadas:

- Cambada de idiotas... Hahahaha... E isso o que é? Uma coruja do Ártico camuflada?

- Atenção! Burros idiotas! Os camelos vão atacar...

Houve uma pequena discussão entre os soldados, o vigia Fritz Merkel, e o comandante querendo impor ordem que não durou mais do que um minuto. Mas já era tarde. As metralhadoras pipocavam vindas de fora do acampamento e um Messerchmidt alemão tomado pelas forças aliadas da Luftwaffe, agora a serviço dos aliados, aparecera de repente e bombardeava o acampamento alemão.

O Urubu escapou ileso, mas não conseguiu voar. Estava com a barriga cheia de salsichas enlatadas. Nem ligou muito quando ouviu o zunido das balas. Já estava habituado. Quem ganhou o prêmio para passar as férias no Rio de Janeiro, foi o soldado de primeiríssima classe, Cameron que aproveitou e devolveu o urubu à torcida do Flamengo logo que chegou de férias ao Rio de Janeiro. Os outros quatro que chegaram primeiro ao acampamento alemão, ganharam um curso para pilotagem de camelos na cidade de Ouagadougou que naquele tempo pertencia à Alemanha como capital do Alto Volta. Eles tinham aprendido alemão e fariam um serviço extra de espionagem.

O resgate era de títulos do tesouro alemão que valeriam muito no futuro, quando a Alemanha se associasse aos banqueiros.

Rui Rodrigues

Moral da história: Todo mundo é esperto, mas uns mais que os outros, ainda que pareçam bobos. O capital é amoral e só se exige moralidade da "tropa".